VALE A PENA LER: O Mago
22.10.2011
Título: O MAGO
Autor: Fernando Morais
Editora: Planeta, 630 páginas.
Das questões mais intrigantes que me incomodaram ao longo dos meus 53 anos de devorador ávido de livros, eu destaco especialmente uma: o fenômeno Paulo Coelho.
Sempre o vi como um autor prolífico, massacrado pela crítica e adorado pelo público, num processo cujo raciocínio não fecha. É comum observarmos meteoros literários transitando com um brilho fantástico no céu editorial e rapidamente se transformarem em um torrão enegrecido, esquecido e sem qualquer resquício do brilho mostrado no seu apogeu.
Também não é raro verificar-se o contrário, ou seja, o projeto de escritor passar anos, décadas, batendo na porta de editoras e recebendo a mesma e indefectível resposta: “Não!”. E lá pela reta final da vida, uma aposta de alguém mais disposto a correr risco termina por revelar ao mercado um grande literato, que público e crítica passam a reverenciar e a correr atrás de antigos originais rejeitados e inéditos.
Com Paulo Coelho é diferente. O escritor praticamente explodiu em feérico sucesso, quando resolveu levar a sério seu sonho de infância de se tornar um escritor mundialmente famoso. A partir do sucesso inicial, construiu uma curva de êxito que se sustentou através dos anos e dos diversos livros que produziu.
Há cerca de 20 anos tive em mãos um livro de sua autoria (Brida), no afã de conferir o valor que a onda de entusiasmo das pessoas pelo escritor então suscitava. Li e achei que a obra não estava à altura do sucesso do autor.
Nunca mais me atrevi a andar por aquela seara, mas sempre observando o claro desequilíbrio do triângulo Paulo Coelho-Público-Crítica, onde a soma dos ângulos pode dar mais ou menos, mas nunca 180 graus, como deveria ser. A paixão das pessoas pelo escritor é inversamente proporcional à acidez dos críticos. Por que acontece esse fenômeno? Haverá uma ilusão coletiva por parte dos leitores? Haverá um preconceito inarredável por parte da crítica? Essas dúvidas me perseguiram todos esses anos.
Agora o brilhante Fernando Morais, que anteriormente me conquistou com A Ilha, Olga e Chatô, o rei do Brasil, arranca a fórceps do útero da História um livro extraordinário – O MAGO – cabedal incrível de informações sobre a vida e a obra de Paulo Coelho que nos deixa muito perto da justificativa para o triângulo deformado, mas ainda bastante longe da explicação para o fenômeno.
Não pretendo voltar a ler Paulo Coelho, mas foi um prazer enorme mergulhar em sua vida, acompanhar a montanha russa de suas deficiências, angústias, loucuras, genialidades, excentricidades e normalidades e, juntamente com ele, mergulhar na apoteose do sucesso absoluto, dos 100 milhões de livros vendidos, dos jantares com reis e Chefes de Estado, de prêmios internacionais cobiçadíssimos e, acima de tudo, naufragar no mar de beijos, abraços e pedidos de autógrafos de fãs espalhados por todas as latitudes do planeta terra.
Com perdão dos críticos que mantêm Paulo Coelho afastado das listas dos mais aplaudidos e a despeito de minha pouca disposição de voltar a ler sua obra, tenho a certeza absoluta para dizer: O MAGO, de Fernando Morais, é um livro que vale a pena ler.
(Edimar Rodrigues de Abreu – 19.10.2011)