29.04.2013
E nesses tempos de coisas ecologicamente corretas, não sei que gênio da lâmpada inventa o sachê de açúcar, aquele envelopinho de papel, servido nos restaurantes e que contém aproximadamente 5 g do produto.
Pelo amor de Deus: será que estamos ficando esquizofrênicos, passamos a ter dupla personalidade? Como podemos tomar o cafezinho no aeroporto, ou o café da manhã no hotel, adoçando com aqueles pacotinhos minúsculos, sem refletirmos um momento sequer sobre o que eles representam?
Não sou ambientalista, militante de ONG, filiado ao PV, ecochato ou qualquer outro rótulo que se dê àqueles cidadãos mais ativos nessa área. Mas mudei muito em relação à questão ambiental nos últimos anos do século 20 e nestes primeiros anos do século 21.
Já não admito, como na minha juventude, a caçada a aves e outros animais silvestres. Até mesmo as cobras, eventualmente encontradas aqui pela roça, são recolhidas vivas e encaminhadas para uma reserva ecológica a pouca distância daqui.
Também induzo a comunidade a tratar melhor o lixo e respondo pessoalmente pela preservação e manutenção de uma nascente que fornece água para a maioria dos vizinhos.
Por isso, revoltam-me os tais sachês de açúcar. E minhas razões são de uma simplicidade mamadeiral: o que as pessoas têm contra os açucareiros? O que eles fizeram de mal para serem banidos dos balcões e das mesas, para dar lugar a esses envelopinhos ridículos?
Vamos raciocinar: o açucareiro é um dos últimos remanescentes de uma forma de se utilizar os alimentos sem gerar o lixo constituído pelas embalagens. O açúcar fica dentro do açucareiro. Você se serve com uma colherzinha, adoça sua bebida, fecha o açucareiro e toma sua bebida. Pronto: é mágica pura – açúcar some dentro do seu corpo sem deixar rastos.
Já os modernos sachês de açúcar, não. Eles, uma vez esvaziados, ficam ali na sua frente, abandonados, órfãos, sem qualquer utilidade. Ora, dificilmente uma pessoa usa apenas um sachê de açúcar para adoçar o seu café. No mínimo, dois. Conheço um cara que usa três para cada xícara pequena de café e quatro para a xícara grande de café com leite, sem contar os três que vão adoçar o suco de laranja no café da manhã do hotel.
Quando a vítima termina aquela refeição matinal, fica contemplando aquela pilha de sete, oito ou dez sachês de açúcar vazios sobre a mesa à sua frente. Alguns ainda constatam –“Estou comendo açúcar demais!”. Outros, à medida que vão esvaziando os sachês, tratam de dobrar as embalagens vazias e enfiá-las umas dentro das outras, para diminuir o volume.
Isso sem contar que ninguém – repito: ninguém – sabe exatamente onde colocar aqueles envelopes vazios: “Deixo em cima da mesa?”; “Enrolo no guardanapo de papel?”; “Disfarço e coloco esses merdinhas aqui no pires, espremidos contra a xícara?”; “Jogo dentro do copo de suco já vazio?”.
E com a agravante de que você nunca consegue esvaziá-los totalmente. Em decorrência, em qualquer das opções acima, onde quer que você arrume seus envelopezinhos vazios, o resíduo de açúcar que eles retiveram no fundo insiste em sair e se espalhar pela mesa ou pelo guardanapo americano, de tal forma que qualquer movimento seu com a xícara, pires, prato, copo ou talheres é imediatamente acompanhado pelo arrepiante criu-criu dos grãozinhos esmagados.
De vez em quando me encontro, à mesa do café da manhã do Sofitel de Florianópolis (poderia ser qualquer outro hotel brasileiro), diante de três sachês de açúcar vazios, cada um contendo outros dois sachês de açúcar dobrados dentro. E me pergunto: quem teve essa idéia imbecil?
Será que esse grande inventor usa essas coisinhas ridículas para adoçar seu café, seu chá, seu suco? O que será que ele faz com os saquinhos vazios? Como é que ele agüenta o criu-criu dos grãozinhos esmagados?
Será que ele pensou que essas porcariazinhas, multiplicadas por milhares de hóspedes, multiplicados por dezenas de xícaras e copos e por dezenas de milhares de hotéis e restaurantes em milhões de refeições pelo mundo afora, passaram a exigir o ABATE DIÁRIO DE MILHARES DE ÁRVORES – que os açucareiros nunca exigiram?
Quem está ganhando com isso? Nós, os consumidores? Claro que não! Todo esse desconforto e essa angústia comentados aí em cima não podem ser chamados de ganho, muito pelo contrário.
O dono do hotel ou do restaurante? Não vejo como: um quilo de açúcar a granel no açucareiro é, com certeza, mais barato do que um quilo de açúcar cuidadosamente embalado em 200 saquinhos hermeticamente fechados e impressos com aquelas letrinhas miúdas.
A Natureza, com suas árvores e suas águas, que passaram a ser respectivamente trituradas e poluídas para produzir esses envelopinhos infernais?
Não conheço a resposta. Mas ela certamente existe. E eu vou descobrir!
Edimar Rodrigues de Abreu – 29.04.2013